Os anos mais antigos do passado
de Carlos Heitor Cony
Há pessoas que me perguntam o que ando escrevendo. Para começar, não ando escrevendo. Quando sou obrigado a escrever, a primeira coisa que habitualmente faço é não andar: fico parado diante do computador que me deslumbra e chateia, "croce e delizia la cor", como na ópera de Verdi.
A pergunta nunca vem sozinha. Querem saber porque escrevo - apesar dos motivos que tenho para nada escrever.
Deu-se que nasci com um problema na fala, fui mudo até os cinco anos. Deveria ficar mudo para o resto da vida, teria dito menos besteira e criado menos problemas. Quando comecei a falar, descobriram que eu era incapaz de pronunciar corretamente a maioria das palavras, trocava quase todas as letras.
Foi uma alucinação quando descobri que podia escrever as palavras que não podia pronunciar.